sábado, 14 de setembro de 2013

The Way

  Uma semana.

Um dia faz parecer uma semana por aqui. Quando se passou uma semana sentimos nos pés e no coração que um mês já se foi.

Quando nos separamos de um companheiro de caminho para reencontrá-lo mais à frente a sensação é que não nos vemos à semanas. Mesmo que tenhamos nos visto há um dia ou dois.

São 20, 30 ou até 40 km por dia (não faça isso). Andamos no compasso do tempo. Como dizia Luiz Gonzaga em Estrada de Canidé, não há nada como o cristão andar à pé.
Acordamos cedo, dormimos ao apagar das luzes e andamos. São 3 cidades ou povoados pelo menos que conhecemos, ou simplesmente passamos.

Todos os dias.

A sensação de avistar uma cidade de longe e ir se aproximando dela lentamente até passá-la e deixá-la para trás é difícil de descrever.

E quando estamos do alto de uma montanha e contamos 3 ou 4 cidazinhas cada qual com sua igreja? Ficamos tentando adivinhar em quais delas nosso caminho irá nos levar.

O caminho é duro mas é lindo. É visto de tantas formas dependendo de quem o anda. E tem que andá-lo para entender o seu.

E hoje passado a metade do caminho a sensação que tenho é que os 33 dias mais ou menos até Santiago terão valido um ano pelo menos. Por aí.

Até breve.

domingo, 8 de setembro de 2013

No meio do Caminho

   Faça o bem. Boa noite. Assim olhando nos olhos, e com um sorriso, aliás um sorriso acolhedor, que o garçom do albergue/hotel me deixou entrar depois das 22hs quando já havia fechado o portão.

Estou numa minúscula cidade no meio do caminho de Santiago. Não era para eu estar aqui. Deveria ter acompanhado meus novos amigos brasileiros Mauricio e David para a próxima cidade a 12 km daqui.

Estava tudo certo. Hoje andaríamos 34 km para que amanhã Burgos ficasse bem perto, cerca de 26 km.

Tinha me preparado mentalmente para os 34km. Ontem já tinha andado 30 quando dormimos no albergue apadrinhado por Paulo Coelho. Aliás que experiência conhecer Acácio e Orietta e desfrutar de sua acolhida.

Mas não deu. Tinha que ficar aonde estou agora. Já estávamos a poucos metros da saída de Villafranca Montes de Oca quando vi uma majestosa porta com um aviso: peregrinos €5.

Tínhamos acabado de passar na frente do imponente hotel 3 estrelas e a porta parecia fazer parte de suas instalações. Falei para Mauricio que iria dar uma olhada dentro já que David estava ainda na igreja em frente.

Pareceria o jardim do Édem. E com a placa que dizia Botiquín para Peregrinos então... fui adentrando com cajado, mochila, tudo. Até que aquela mesma pessoa simpática gritou: o que você está procurando? O bar, eu disse.

-Ah, o que você quer beber? É por aqui. E apontou a porta do bar mais requintado do caminho até agora.
-Puxa, não sei o que fazer. Meus amigos estão lá fora esperando pois vamos andar até San Juan de Ortega e eu não sei o que fazer.
-Bem, você deve escutar as suas pernas e seu coração - disse de forma sincera.

Saí para falar com meus companheiros e eles já subiam a ladeira e quase estavam fora de vista.

Gritei para eles: vou ficar aqui!
-Nos falamos por whatsapp então - gritou de lá o Mauricio.

O caminho é maravilhoso.  Coisas inesperadas acontecem. Como ficar num maravilhoso hotel por €5, tomar uma sangria deliciosa ou ainda reencontrar Evelyn, companheira peregrina da Holanda do início da jornada e jantar com ela.

Aliás, ela foi a razão do sorriso ganho de quando quase perdi a hora. Fui deixá-la no seu albergue após mais algumas taças de vinho no bar do hotel.

E assim o caminho continua. Sempre nos colocando em situações diferentes, que não havíamos planejado. Como a vida.

Até breve!