segunda-feira, 30 de maio de 2011

Se eu fosse você começaria a ter algum Yuan no bolso


Estádio principal das Olimpíadas de Beijing que ficou conhecido como "Ninho do pássaro"
  
   Quando se sai de Tokyo para Beijing, a impressão que se tem é que enquanto o Japão que é o segundo maior país capitalista do mundo parece ser socialista, a China que é o maior país socialista parece ser na verdade capitalista.  

Deixei um país que 90% de sua população se considera classe média e todos dividem os pontuais (e muitas vezes superlotados) trens, metrôs e Shinkansens (trens-bala) diariamente, munidos de seus moderníssimos celulares e outros gadgets.  E quando cheguei aqui na capital da China, encontrei um país em ebulição econômica com edifícios cada vez mais altos, modernos, belíssimos (para mim os mais belos do mundo) recheando os gigantescos quarteirões planejados e de avenidas largas para Ferraris, Porshes, Lamborghinis e outros símbolos do capitalismo moderno transportarem os novos ricos chineses. 

Tenho que dizer que fiquei impressionado com o planejamento de longo prazo do Partido Comunista.  Os metrôs já somam mais de 350 km em 16 linhas e o projeto é chegar aos 600 km apenas em Beijing nos próximos 15 anos.  Tudo bem, que as máquinas para comprar o bilhete frequentemente estão quebradas e o jeito é comprar no balcão mesmo, mas o metrô é bom, funciona e custa apenas 2 yuan.  Isso dá exatamente R$ 0,50 para qualquer lugar da cidade.  Isso mesmo.

Falar da Cidade Proibida e da Grande Muralha é simplesmente dizer uau! A grandiosidade desses monumentos são de cair o queixo e não tem como não dizer uau dezenas de vezes, assim como é engraçado ouvir o turista ao lado dizer a mesma coisa.  É grande, impressionante, de tirar o fôlego mesmo.

Para mim de arrepiar e de ficar pensando na vergonha de devemos passar nos jogos de 2016 foi ver o parque Olímpico daqui.  No lugar do uau veio aquele arrepio que se vê e se sente nos braços.  Que coisa fantástica! O Ninho do Pássaro é indescritível, já o Cubo D’água para mim foi emocionante.  Palco da primeira medalha de ouro da natação olímpica brasileira e onde Michael Phelps fez história ao ganhar 8 medalhas de ouro em uma única olimpíada, era um dos objetivos da minha viagem.  Não só vi, mas toquei aquelas bolhas (morria de curiosidade), e principalmente nadei na melhor e mais rápida piscina do mundo. 

Isso mesmo, os chineses transformaram o complexo num grande parque aquático onde preservadas as piscinas de aquecimento, a principal e a de saltos, foi adicionado um “water park” que deu utilidade, receita e público para o Cubo D’água.  Fiquei pensando no abandono do Maria Lenk após o Panamericano do Rio...

Sim, a China será o país mais rico do mundo em 30 anos ou menos.  E porque isso preocupa?  Assim como o capitalismo como se vê na maioria dos países não funciona, não traz qualidade de vida para a maioria da população, o comunismo do jeito que vejo aqui também não me parece a melhor escolha.  É claro que Mao é tido como um Deus pelos chineses.  O sistema que ele colocou em prática mudou drasticamente a vida dos chineses.  De pobres para ricos em menos de 60 anos.  Fantástico!  Mas e a liberdade de expressão?  Direitos humanos?  Estou aqui sem acesso a Facebook, You Tube, Blog, Twitter, praticamente tudo que é ocidental e eles não podem controlar é bloqueado.  Pessoas que questionam o regime são presas e esquecidas.  Não acho que esse também é o melhor caminho.  O que me preocupa é que a quase totalidade da população não está nem aí para isso.  Estão ficando ricos e é isso que importa. 

Minha esperança é que com o passar dos anos, a riqueza deixará de ser a prioridade para as pessoas e aí todas essas questões serão levantadas.  Pelo que entendi do Partido Comunista, eles mudarão com o povo e o sistema será flexibilizado.  É o que eu espero.

Até breve!

Edifícios belíssimos

Eles gostam de uni-los por passarelas, vários assim.

Prédio da CCTV (TV estatal)

Companheiros trabalhadores

Amiga Ai imitando Mao em pintura surreal

Várias turmas de fotografia em aula prática no Distrito Artístico 798

Muitas Ferraris

Bairro antigo "Hutong"

Vários artistas cegos tocam esse instrumento pelas ruas

Até cavalo-marinho é lasca né

Quem me conhece sabe que eu tinha que comer escorpião :-)

Criança brincando no bairro de Sanlitun

Faz a posse pro tio aí...

Entrada da Cidade Proibida que tinha que ter Mao como estrela principal

Tudo é grandioso

Amiga Sarah, os chineses sempre tem um nome inglês pra ajudar.

Houhai Lake (do lado oposto vários barzinhos legais)

A grande muralha da China

É de tirar o fôlego

Cubo D'água à noite é fantástico

Representando a equipe Master da R2

Aqui o Brasil ganhou sua 1a. medalha de ouro e Phelps fez história ao ganhar 8

Cubo D'água sendo massivamente utilizado após as olimpíadas

Chinesa ensinado a fazer e tomar chá

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Governo Somos Nós

Foto retirada do Blog Exercendo nossa Cidadania (Recife-PE)
 
   Acabei de ter uma conversa muito interessante com meu tio Luiz Fernando que está agora nos EUA.  Muito legal esse Skype, possibilitou quase 1 hora de conversa gratuita de dois brasileiros tão distantes um do outro e também de suas casas.  Espero que a compra deste fantástico serviço pela Microsoft, notícia esta que recebi pelo próprio Luiz, não resulte em cobranças ou piora de serviços.

Luiz Fernando é uma das pessoas mais inteligentes que conheço.  Tranquilo, gosta de um bom papo, e quando não está familiarizado com um assunto, no dia seguinte não hesita em parar numa livraria e comprar um livro para que na próxima conversa possa participar melhor.

Sua viagem à Orlando acentuou sua preocupação em relação ao planejamento urbano que acontece (ou não acontece) no Brasil e mais especificamente em Recife.  Parece que a organização da cidade, seus jardins, o trânsito que funciona mesmo com tantos carros, e tudo isso convivendo perfeitamente com o lucro do comércio e dos parques temáticos, reascendeu uma discussão antiga nossa.

Porque o Brasil que tem tanto espaço, precisa viver desta forma tão caótica que estamos vivendo?  Qual será o futuro de Recife por exemplo, se hoje já é um tormento para se locomover? E se já está ruim, como admitir a construção de mais apartamentos em ruas tão estreitas?  Ruas essas que foram planejadas para uma certa quantidade de famílias e estão suportando inúmeras vezes mais sem que nos demos conta.

O legal de viajar é ver como outros povos tratam de seus problemas, como antecipam (coisa que pouco fazemos), planejam e vivem em sociedade.  Vi por exemplo Bernhard, que é esposo de minha prima Cecilia (ver post sobre a família) e é vereador de uma cidade pequena na Alemanha não receber salário e ter seu emprego normal para sustentar a família. Ele ainda me explicou que praticamente todo mundo na cidade faz algum trabalho voluntário para o município.  Ele, juntamente com o pai, ainda pinta anualmente algumas placas na estrada.  Além de já trabalhar de graça como vereador!

Aqui no Japão estou vivenciando a pior crise desde a última guerra mundial onde o país foi parcialmente destruído e teve 2 bombas atômicas lançadas além de ter sido ocupado pelos Estados Unidos.  Não vejo ninguém reclamando do governo ou esperando a solução cair do céu.  Vejo todos trabalhando, seja dentro de suas casas, ou para a comunidade.  Noutros países que tenho visitado a coisa é mais ou menos parecida. 

Já no Brasil, nos acostumamos a reclamar do governo, da oposição, da situação, menos ver o que é o mais óbvio: que nós somos o governo!  O governo é apenas o reflexo da sociedade.  Eu mesmo já me isentei da discussão dizendo que os mais pobres trocam o voto por favores e como são a maioria sempre o clientelismo irá prevalecer.  Mas e se mesmo os ricos votam naquele político apenas porque o conhecem pessoalmente e podem ser favorecidos no futuro? Ou não é assim que nós votamos?

A questão não é apenas como votamos, mas como vivemos.  Conhecendo mais sobre outros povos estou cada vez mais convencido que o nosso problema é cultural, e que sempre queremos para nós, e nunca para o coletivo. Um dia vamos ver que tudo o que tivermos para nós não fará mais sentido, se não pudermos dirigir nossos carros, andar tranquilamente pela rua, ou termos os serviços mais básicos em nossas residências.

Até breve!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Minha família Japonesa

Os Kawabe-san

   Não via a hora de chegar no Japão.  Todo este tempo na Ásia, um mês somente na Tailândia (que foi ótimo), Hong Kong, Macau, Laos, Cingapura, sempre tentava aprender algumas palavras para falar a língua local.  Mas não tinha jeito, na cabeça só vinha o japonês.  Era como se estando na Ásia o natural seria falar a língua nipônica.

Se minha referência de língua aqui é o japonês, de família são os Kawabe.  Eles me ensinaram tudo o que se precisa saber sobre esse povo.  Com eles aprendi como aqui se respeita o próximo e como se vive numa sociedade onde tudo é escasso mas a delicadeza é abundante.

Era o ano de 1992 quando aceitei o desafio de ser o primeiro nordestino a vir para o Japão pelo programa de intercâmbio do Rotary, bem como o primeiro intercambista brasileiro a vir para esta região no nordeste do Japão.  Acho que a experiência deu certo pois, depois de mim, Roberta Queiroga veio pelo mesmo programa e Megumi Sato foi morar no Recife.  Sem contar Yuta, que já foi ao Brasil 4 vezes e estudou português na UFPE.

Megumi faz parte de outra família que me acolheu aqui em Sendai.  O programa do Rotary exige que os intercambistas fiquem em 3 famílias diferentes no período de 1 ano para que possa ter uma visão mais abrangente da sociedade. 

Este programa é simplesmente fantástico.  Como imaginar que após quase 20 anos estaria aqui reunido com toda a família Kawabe (estamos no meio do maior feriado do Japão, o Golden Week) como mais um membro da família?  Como falei em post anterior "Tiago embaixador do Brasil", aprendemos a ser embaixadores do nosso país e depois do país que visitamos.  E isto é muito bom para o mundo se pensarmos na falta de compreensão que existe entre os povos por conta das diferenças culturais e religiosas. 

Tenho muito ainda para falar deste povo maravilhoso que está vivendo seu momento mais difícil desde a 2a. guerra mundial e ainda assim consegue ser resiliente sem deixar de trabalhar para reconstruir seu país e suas vidas.

Até breve!

Fazendo graça


Otosan e Okasan

Yuta sem deixar meu copo vazio
Reunidos no Monte Zao
O Zao Okama é um vulcão extinto que virou lago